Opinião: Sincericídio no “Fala, Jero” gera sombras desnecessárias sobre ponte Salvador - Itaparica
Por Fernando Duarte
Não foi preciso esforço da oposição para criar novas desconfianças sobre o andamento do projeto da ponte entre Salvador e a Ilha de Itaparica. Coube ao próprio Jerônimo Rodrigues, de uma maneira estranhamente natural, trazer a público que estava despreparado em uma reunião com o consórcio responsável pela obra faraônica, que acabou gerando perguntas que ficaram, em um primeiro momento, sem resposta. O “sincericídio” rendeu não apenas notícia, mas também munição para adversários.
Antes de embarcar para mais uma viagem internacional a China, foi o governador quem sugeriu que voltaria na bagagem com informações precisas sobre o início das obras. A expectativa foi criada após um “equilíbrio de contas” mediado pelo Tribunal de Contas do Estado (TCE) permitir a retomada de perspectivas menos tensas com relação ao futuro do projeto. Todavia, mesmo após alguns dias do retorno de Jerônimo à Bahia, além da foto das duas reuniões em território chinês e a desastrada declaração no “Fala, Jero”, pouco se sabe sobre a real condição dos pilares da ponte saírem do papel no curto prazo.
Anunciada há 16 anos, a obra tem sido a menina dos olhos do governo baiano desde que Jaques Wagner ainda ocupava o Palácio de Ondina. Após muitas idas e vindas, Rui Costa colocou o então vice e aliado João Leão para tocar o projeto, que finalmente parecia estar prestes a ser ficcional. No entanto, a pandemia “derreteu” as bases da ponte e os custos pularam de R$ 5 bilhões para R$ 9 bilhões. Sem contabilizar, inclusive, alguns milhões que circularam em estudos prévios que já garantiriam uma pós-graduação para a ponte...
Quando Jerônimo foi a China pela primeira vez, também em uma comitiva ao lado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a ponte, mais uma vez, pareceu perto de se concretizar. Porém... contudo... no entanto... todavia... Não houve a celebração prévia desse equilíbrio de contas envolvendo o TCE, votado somente no último mês de fevereiro. Então, aquela viagem serviu para outros propósitos. Foi quando surgiu a possibilidade de mais uma ida do governador para a China para, finalmente, trazer na mala a garantia que a obra ia começar.
Não aconteceu. Pelo menos, Jerônimo não anunciou aquilo que ele próprio indicara que faria. E, para completar a panaceia, o governador lançou mão da zona de conforto de um podcast “institucional” para gerar mais dúvidas do que respostas para quem acompanha a ladainha que se tornou a ponte Salvador – Itaparica.
Às vezes, adversários nem precisam ter muito trabalho para fabricar fatos políticos. Basta apenas um “sincericídio” de um agente político para que a equipe de comunicação e marketing do governo ter uma síncope...